domingo, 31 de outubro de 2010

Colour my life with the chaos of trouble.








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Eu deveria parar de pensar. Pensar dói, pensar maltrata. Mas continuo. É mais forte do que eu. Um poder superior que me impede de não pensar. Seria tão bom, às vezes, não pensar. Tão agradável, tão fácil e... descomplicado.
Sempre que eu começo a pensar muito me machuco. Odeio quando fico assim. Sinto-me frágil, o que não é bom. Mas o que fazer? Dormir até que os pensamentos dissolvam? Não é uma má idéia.

pára cabeça!

sábado, 30 de outubro de 2010

Celular toca. Um número desconhecido. Penso que pode ser alguma amiga ou minha mãe em perigo. Atendo. A cobrar. "Bem, realmente deve ser algo importante", eu penso. Retorno a ligação. Uma mulher atende:
- Ademir, traz uma Coca-cola quando você estiver vindo!
- OI?
- Ademir?
- Não, Júlia.
- Ah desculpa! Liguei errado...!
- Tudo bem.


end scene.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tento escrever qualquer coisa por aqui, até mesmo o mais banal, mas não consigo. Parece que está faltando algo. Inspiração, talvez. Ou um empurrãozinho. Não sei. Estou tão cheia de sentimentos e, ao mesmo tempo, tão vazia. Sinto-me livre e sem rumo. Será que estou fazendo a coisa certa? Acho que sim. Afinal, estou feliz. E é isso o que importa, não é?


não sei.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Desci do trem e as únicas pistas para tentar achar K. eram o telegrama que me enviara e o seu perfume. Estava tensa por não conhecer bem o lugar e ansiosa para que estivesse tudo certo com ele.
Era uma bela cidade com edifícios vitorianos e georgianos, árvores frondosas e ruas estreitas que a faziam permanecer com uma atmosfera medieval. Além disso, o inverno a envolvia numa fina camada de neve. Sempre sonhamos em morar em Winchester. Ele para ficar perto do que mais adorava, a história que existia ali, e eu pela Jane Austen.
Não entendia por que K. fora embora. Ele prometeu que nunca me deixaria sozinha. E lá estava eu, à procura do homem mais sonhador do mundo. Hipérbole à parte, tinha medo do que pudesse ter acontecido.
No telegrama ele falava sobre liberdade, que sentia minha falta e que, para tudo ficar como antes, ele precisava pôr um ponto final em algo. “No Rio Itchen tudo voltará ao seu normal”, ele disse. Não entendi muito bem. O telegrama todo não fazia sentido na verdade, mas já sabia onde procurar. Rio Itchen... Só havia um problema. O rio cortava toda a cidade. Por que ele facilitaria as coisas, não é?
Peguei um táxi e expliquei a situação para o motorista. Ele foi muito compreensivo, mas perguntou por que eu não alugava um carro. Eu já não sabia dirigir normalmente, imagina tentar fazer isso do lado errado! Simplesmente sorri e balancei a cabeça negativamente. Acho que ele entendeu o que eu quis dizer e permaneceu em silêncio durante toda a procura.
A noite começava a surgir. Enquanto a neve caia delicadamente, percebi que era a primeira vez que a via. Estava hipnotizada. Até que eu o vi. Com um belo sobretudo preto e uma touca colorida. Só ele para usar aquela touca tão ridícula. Estava segurando um vaso. Tudo fez sentido.
Desde que Ana falecera, ele perdera o chão. Exatamente naquela noite fazia um ano. Ela sempre ria quando falávamos que nos mudaríamos para Winchester. Dizia que não saberia lidar com o frio e que tinha medo de não se adaptar. Ele ria e falava que cuidaria dela, como sempre.
Meus pais se conheceram no colégio e estavam juntos desde aquela época. Minha mãe faleceu num acidente de carro. Meu pai se culpava, dizia que se ele tivesse ido buscá-la como sempre fazia, ela ainda estaria conosco. Eu sabia que não era culpa dele. Mas falar isso para ele era como falar para uma porta que a culpa não era dela de prender o nosso dedo. Enfim, ele não aceitava.
Saí do táxi e fui ao seu encontro. Ele segurava a urna com todas as suas forças. Mantive-me ao seu lado. Ele sorriu enquanto olhava para o lago. Disse que estava feliz por tê-lo encontrado. Encostei a minha cabeça em seu ombro e perguntei:
- Você acha que ela vai agüentar o frio?
- Claro! Ela ficava linda quando era inverno. Ela vai ficar linda aqui. – ele disse.
Jogamos suas cinzas no rio. Não sabíamos se aquilo era permitido, mas não ligávamos. Era um lugar bonito para aquilo e num momento mágico. Fomos para o hotel onde meu pai estava hospedado. Conversamos sobre os últimos acontecimentos. Concordamos que a cidade era exatamente como havíamos sonhado. Talvez nos mudaríamos para lá, realizaríamos os nossos sonhos. E ficaríamos todos juntos como sempre.

O dia seguinte

Chamo-me Plínio de Arruda Sampaio e acaba de sair o resultado final da eleição. Esperei um pouco até tomar conhecimento. O final era óbvio, então estava tranqüilo.
Tomei um longo banho quente. Para relaxar. Acho que foi o melhor até hoje. O sabonete novo tinha um cheiro cítrico, ótimo para acalmar. O vapor havia embaçado o espelho. A imagem que aparecia ali era a mesma de sempre. Tinha a esperança de olhar e ver aquele rapaz jovem, amante da política e com grandes sonhos. Mas só via as rugas companheiras de anos.
Vesti uma roupa qualquer. A primeira que vi no armário. Uma calça de moletom azul, relativamente nova, e uma blusa branca puída. Depois de meses com aqueles ternos sérios e caros, finalmente estava à vontade. Fiquei descalço, a minha senhora ralharia comigo, poderia gripar. Mas naquele momento eu não ligava.
Fui até a cozinha. Um esplendoroso banquete me esperava. A campanha me impossibilitara de fazer refeições completas. Fazia meses que vivia apenas de lanches. Não sabia por onde começar. Talvez pelo pão francês fresquinho e um café com leite bem quente.
Não havia ninguém ali. Nem a minha esposa ou um dos assessores chatos. Eles pareciam aquelas baratas que sabem do seu asco e correm (ou voam, o que é pior) atrás de você. Enfim, eram a extensão impertinente de mim. E não estavam lá para me perturbar. Estranho.
Devorei todo o meu café da manhã sozinho. Sentia-me empanzinado. Uma moleza apoderou-se de mim. Precisei tirar um cochilo na minha adorável cadeira reclinável. Havia voltado à rotina e ela era simplesmente reconfortante.
Acordei meio zonzo. Dormi apenas 15 minutos. Pareceu uma eternidade. Estava feliz pela campanha, por voltar ao lar. Fui procurar minha mulher. Tinha esquecido como aquela casa era grande. Ou eu continuava a ficar mais velho? Dei uma gargalhada. Meu humor voltara. Malditas eleições que me deixaram tão sério!
Ela estava no escritório. Tão linda, com um terninho vermelho e saia combinando. Mas por que tão arrumada? Já poderia voltar a vestir as roupas velhas e confortáveis. Bem, ela estava divina. Parecia a Jaqueline Kennedy. Todos os assessores e organizadores também se encontravam lá. Até o meu vice-presidente. Sorri para todos, mesmo sem entender por que aquilo tudo.
Minha Jaqueline, então, veio me dar a notícia. Por algum motivo desconhecido, eu, Plínio, havia ganho as eleições. Era o novo presidente do Brasil. Só podia ser uma piada. Dei uma risada um tanto nervosa. Um dos assessores ligou a tv. Nela aparecia a minha cara moída pelo tempo com os dizeres embaixo “Presidente eleito – Eleições 2010”.
Um misto de nervoso e felicidade passou a fazer parte de mim. Uma dor estranha no peito também. E tudo ficou escuro. Nem a bendita eleição me deixou viver.