domingo, 26 de dezembro de 2010

É tudo tão diferente aqui onde me encontro. As luzes são hipnotizantes. É lindo quando elas se cruzam. Lembro-me das aulas de Óptica Geométrica. Péssimo. Odiava física no colégio. Ah! Adoro essa música! A vibração que dá no chão é realmente intensa. Acabo de descobrir uma nova forma de sentir música. Os pés dançando freneticamente. Quantos All Stars! Nunca perceberia se não visse dessa perspectiva. Os passos são perfeitamente sincronizados com a batida da música. Engraçado, daqui todos dançam igual. Menos aquela garota pulando. Ainda não sei como vim parar no chão. Ou foi a garrafa de vodka ou os três shots de Cherry Bomb. No final a culpa é sempre da azeitona. A pancada me deixou mais tonta do que todo o álcool que bebi. Agora estou com preguiça de levantar. Todos os meus amigos já vieram me ajudar, mas eu não sei bem se quero. Pelo menos, os outros são cuidadosos e não pisam em mim. Quer dizer, menos a louca pulando. Ela tropeçou em mim duas vezes. Ninguém vê o corpo estendido no chão. Nunca havia reparado como as minhas mãos são bonitas. Deve ser a luz ou o esmalte azul que passei ontem. Elas são o que eu mais gosto em mim agora. Queria ter um cigarro entre os dedos nesse momento. Seria um belo adorno. Mas os malditos só caem apagados no chão. Essa música não deveria tocar agora. Faz-me lembrar dele, da nossa única noite incompleta juntos. Eu ia ser dele naquela festa, mas minha amiga precisava passar mal, claro! Ele estava ali, me olhando. Para de contemplar e faz algo! Talvez ele nem imagina o tamanho do meu desejo. Bem, sempre tem um outro qualquer que sabe. Odeio ser mulher por isso. Sentimentos sempre atrapalhando o curso natural da vida. Não importa com quantos eu fique na festa, no final acabo só pensando nele. E sempre volto sozinha para casa com o meu amigo Zé, o Cuervo. O único homem que me ama de verdade nessa maldita cidade. Opa! A louca saltitante deixou a coca dela cair. Pena estar tão longe de mim. Poderia ter uma nova visão dessa festa.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Monotonia, rotina, mesma nota, mesmo compasso. Irrita. Gosto de planos mudando na última hora, encontrar pessoas sem marcar. Uma delícia. Mas não, não é assim. Complica, lento, para. Credo! Vai, anda, mexe, dança... Curto uma dodecafonia.
Não. Não pode. Tem que ser assim, direitinho. Um, dois, três. Um, dois, três. Viver pra quê? É complicado. Dá uma preguiça. É melhor continuar assim, que nem gente grande. Chato. Marasmo. Nada.
Três, um, dois. Epa! Desculpa, senhor, não queria atrapalhar a cadência perfeita. Só queria mudar um pouquinho. Vou ficar quieta no meu canto. Quando essa vontade passar, eu volto.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Uma onda que transformou a minha vida

Ando cansada de tudo o que acontece comigo. Sempre os mesmos problemas, as mesmas pessoas, as mesmas brigas. Necessito de mudanças. Boas, é claro. Não preciso de mais gente morrendo, perdendo tudo, descobrindo podres de amados. Quero sorrir com vontade novamente.
É terrível estar sem rumo. Vivo a minha rotina levando, todos os dias, socos no estômago. Não consigo mais chorar. Mantenho tudo preso. Não duvido nada que me encontrem louca pela rua. Já ando falando sozinha por aí, conversando com objetos inanimados, gritando com ônibus e dentro deles. Bem ridícula.
Sinto falta do que nunca tive, das viagens que nunca fiz, dos amores que nunca conquistei. Não peço por muito, mas felicidade é algo deveras difícil de encontrar. Imagino se fosse algo de comer. Chegaria no restaurante, pediria por uma felicidade com fritas no capricho e ouviria do garçom: "está em falta". "Ok, então me vê uma dose de loucura e um pastel de vento!".
Andava tudo tão bem. Sem brigas, sem dívidas, sem mau humor. Mas as coisas começaram a desandar de uma forma realmente cinematográfica. Mudei. Não sei se amadureci, mas não sou mais aquela que acreditava nas pessoas. Virei uma espécie de rocha cheia de neuras e sentimentos contraditórios.
De certa forma gostaria que tudo estivesse tranqüilo. Afinal, ninguém gosta de problemas atrapalhando a vida. Porém, com toda essa zona, pude voltar a sentir. Em outras intensidades e de modos novos. Não que eu tenha parado de ser confusa, mas atingi o próximo nível. A confusão organizada. Não sei como explicar, mas é isso.
Clamei tanto pelo novo que recebi. Melhor que a encomenda, viu. Sou aquela rocha sendo bombardeada por problemas. Penso se isso me tornará uma mulher do Almodóvar. Louca e guerreira. Ou uma personagem do Woody Allen, totalmente neurótica e problemática. Acho que a junção dos dois seria perfeita. No final serei só mais uma no meio de tantos.
Nada do que uma maré de problemas para me fazer mudar. Ainda não descobri se foi bom ou ruim. Mas acho que o tempo serve pra isso. Preciso esperar. E como eu odeio esperar!

domingo, 31 de outubro de 2010

Colour my life with the chaos of trouble.








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Eu deveria parar de pensar. Pensar dói, pensar maltrata. Mas continuo. É mais forte do que eu. Um poder superior que me impede de não pensar. Seria tão bom, às vezes, não pensar. Tão agradável, tão fácil e... descomplicado.
Sempre que eu começo a pensar muito me machuco. Odeio quando fico assim. Sinto-me frágil, o que não é bom. Mas o que fazer? Dormir até que os pensamentos dissolvam? Não é uma má idéia.

pára cabeça!

sábado, 30 de outubro de 2010

Celular toca. Um número desconhecido. Penso que pode ser alguma amiga ou minha mãe em perigo. Atendo. A cobrar. "Bem, realmente deve ser algo importante", eu penso. Retorno a ligação. Uma mulher atende:
- Ademir, traz uma Coca-cola quando você estiver vindo!
- OI?
- Ademir?
- Não, Júlia.
- Ah desculpa! Liguei errado...!
- Tudo bem.


end scene.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tento escrever qualquer coisa por aqui, até mesmo o mais banal, mas não consigo. Parece que está faltando algo. Inspiração, talvez. Ou um empurrãozinho. Não sei. Estou tão cheia de sentimentos e, ao mesmo tempo, tão vazia. Sinto-me livre e sem rumo. Será que estou fazendo a coisa certa? Acho que sim. Afinal, estou feliz. E é isso o que importa, não é?


não sei.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Desci do trem e as únicas pistas para tentar achar K. eram o telegrama que me enviara e o seu perfume. Estava tensa por não conhecer bem o lugar e ansiosa para que estivesse tudo certo com ele.
Era uma bela cidade com edifícios vitorianos e georgianos, árvores frondosas e ruas estreitas que a faziam permanecer com uma atmosfera medieval. Além disso, o inverno a envolvia numa fina camada de neve. Sempre sonhamos em morar em Winchester. Ele para ficar perto do que mais adorava, a história que existia ali, e eu pela Jane Austen.
Não entendia por que K. fora embora. Ele prometeu que nunca me deixaria sozinha. E lá estava eu, à procura do homem mais sonhador do mundo. Hipérbole à parte, tinha medo do que pudesse ter acontecido.
No telegrama ele falava sobre liberdade, que sentia minha falta e que, para tudo ficar como antes, ele precisava pôr um ponto final em algo. “No Rio Itchen tudo voltará ao seu normal”, ele disse. Não entendi muito bem. O telegrama todo não fazia sentido na verdade, mas já sabia onde procurar. Rio Itchen... Só havia um problema. O rio cortava toda a cidade. Por que ele facilitaria as coisas, não é?
Peguei um táxi e expliquei a situação para o motorista. Ele foi muito compreensivo, mas perguntou por que eu não alugava um carro. Eu já não sabia dirigir normalmente, imagina tentar fazer isso do lado errado! Simplesmente sorri e balancei a cabeça negativamente. Acho que ele entendeu o que eu quis dizer e permaneceu em silêncio durante toda a procura.
A noite começava a surgir. Enquanto a neve caia delicadamente, percebi que era a primeira vez que a via. Estava hipnotizada. Até que eu o vi. Com um belo sobretudo preto e uma touca colorida. Só ele para usar aquela touca tão ridícula. Estava segurando um vaso. Tudo fez sentido.
Desde que Ana falecera, ele perdera o chão. Exatamente naquela noite fazia um ano. Ela sempre ria quando falávamos que nos mudaríamos para Winchester. Dizia que não saberia lidar com o frio e que tinha medo de não se adaptar. Ele ria e falava que cuidaria dela, como sempre.
Meus pais se conheceram no colégio e estavam juntos desde aquela época. Minha mãe faleceu num acidente de carro. Meu pai se culpava, dizia que se ele tivesse ido buscá-la como sempre fazia, ela ainda estaria conosco. Eu sabia que não era culpa dele. Mas falar isso para ele era como falar para uma porta que a culpa não era dela de prender o nosso dedo. Enfim, ele não aceitava.
Saí do táxi e fui ao seu encontro. Ele segurava a urna com todas as suas forças. Mantive-me ao seu lado. Ele sorriu enquanto olhava para o lago. Disse que estava feliz por tê-lo encontrado. Encostei a minha cabeça em seu ombro e perguntei:
- Você acha que ela vai agüentar o frio?
- Claro! Ela ficava linda quando era inverno. Ela vai ficar linda aqui. – ele disse.
Jogamos suas cinzas no rio. Não sabíamos se aquilo era permitido, mas não ligávamos. Era um lugar bonito para aquilo e num momento mágico. Fomos para o hotel onde meu pai estava hospedado. Conversamos sobre os últimos acontecimentos. Concordamos que a cidade era exatamente como havíamos sonhado. Talvez nos mudaríamos para lá, realizaríamos os nossos sonhos. E ficaríamos todos juntos como sempre.

O dia seguinte

Chamo-me Plínio de Arruda Sampaio e acaba de sair o resultado final da eleição. Esperei um pouco até tomar conhecimento. O final era óbvio, então estava tranqüilo.
Tomei um longo banho quente. Para relaxar. Acho que foi o melhor até hoje. O sabonete novo tinha um cheiro cítrico, ótimo para acalmar. O vapor havia embaçado o espelho. A imagem que aparecia ali era a mesma de sempre. Tinha a esperança de olhar e ver aquele rapaz jovem, amante da política e com grandes sonhos. Mas só via as rugas companheiras de anos.
Vesti uma roupa qualquer. A primeira que vi no armário. Uma calça de moletom azul, relativamente nova, e uma blusa branca puída. Depois de meses com aqueles ternos sérios e caros, finalmente estava à vontade. Fiquei descalço, a minha senhora ralharia comigo, poderia gripar. Mas naquele momento eu não ligava.
Fui até a cozinha. Um esplendoroso banquete me esperava. A campanha me impossibilitara de fazer refeições completas. Fazia meses que vivia apenas de lanches. Não sabia por onde começar. Talvez pelo pão francês fresquinho e um café com leite bem quente.
Não havia ninguém ali. Nem a minha esposa ou um dos assessores chatos. Eles pareciam aquelas baratas que sabem do seu asco e correm (ou voam, o que é pior) atrás de você. Enfim, eram a extensão impertinente de mim. E não estavam lá para me perturbar. Estranho.
Devorei todo o meu café da manhã sozinho. Sentia-me empanzinado. Uma moleza apoderou-se de mim. Precisei tirar um cochilo na minha adorável cadeira reclinável. Havia voltado à rotina e ela era simplesmente reconfortante.
Acordei meio zonzo. Dormi apenas 15 minutos. Pareceu uma eternidade. Estava feliz pela campanha, por voltar ao lar. Fui procurar minha mulher. Tinha esquecido como aquela casa era grande. Ou eu continuava a ficar mais velho? Dei uma gargalhada. Meu humor voltara. Malditas eleições que me deixaram tão sério!
Ela estava no escritório. Tão linda, com um terninho vermelho e saia combinando. Mas por que tão arrumada? Já poderia voltar a vestir as roupas velhas e confortáveis. Bem, ela estava divina. Parecia a Jaqueline Kennedy. Todos os assessores e organizadores também se encontravam lá. Até o meu vice-presidente. Sorri para todos, mesmo sem entender por que aquilo tudo.
Minha Jaqueline, então, veio me dar a notícia. Por algum motivo desconhecido, eu, Plínio, havia ganho as eleições. Era o novo presidente do Brasil. Só podia ser uma piada. Dei uma risada um tanto nervosa. Um dos assessores ligou a tv. Nela aparecia a minha cara moída pelo tempo com os dizeres embaixo “Presidente eleito – Eleições 2010”.
Um misto de nervoso e felicidade passou a fazer parte de mim. Uma dor estranha no peito também. E tudo ficou escuro. Nem a bendita eleição me deixou viver.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Eu não estou gostando de Agosto. Brigas, desentendimento, mudanças... Posso voltar no tempo e refazer certos momentos? Atuar com mais afinco, talvez. Esperava que entendessem piadas, que compreendessem o que eu dizia, que demonstrassem algo. Nada disso aconteceu. Nunca fui tão mal compreendida quanto nesse mês. Eu pensava que estava falando A, mas na verdade elas saiam de mim parecendo B e os outros entendiam o absurdo que era o C. Estava possuída por um espírito ruim que atrapalhou tudo. Acho que ele só está dormindo.
Não gosto de pessoas que acham que me conhecem e falam para mim coisas absurdas. E outra, eu não ameaço. Eu sou incapaz de ameaçar alguém. Se você achou isso, é porque você realmente não sabe com quem está lidando. E eu prometo nunca mais dirigir a palavra para uma pessoa assim. Dá muito trabalho. Era pra ser nada e virou muita coisa.
Mas, pior que isso tudo, são os relacionamentos que mudam por coisas bobas. Era pra continuar como antes, conversando sobre qualquer coisa, rindo, saindo, se divertindo... E agora existe um muro invisível que impede um diálogo normal. Não era pra ser assim. Porém, ao mesmo tempo, não me arrependo. Só gostaria que não tivesse atrapalhado.


Vamos lá Agosto, você consegue!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Os dois eram muito novos quando se conheceram. Imaturos, com certeza. Cresceram juntos aprendendo coisas novas. Era uma relação complicada. Cheia de feridas e mágoas. Mas o amor que os dois sentiam transcendia qualquer obstáculo criado.
Ele era apenas um rapaz que, como qualquer outro, não sabia lidar com sentimentos. Ela, ainda adolescente, que acreditava ter achado o seu príncipe. Não era bem assim. Ele estava bem longe de ser perfeito como aqueles príncipes encantados dos filmes. Ele era normal, cheio de defeitos e qualidades. E a amava incondicionalmente. Era isso que importava.
Eles eram reféns do tempo. Ela tinha medo de o perder para sempre. Ele temia não encontrar outro amor como aquele. Mas mesmo que as coisas mudassem, eles ainda seriam um do outro. Soava clichê e ninguém entendia muito bem aquilo, mas o que importava? Eles tinham um ao outro.

Ele se casou com outra mulher e teve belos filhos. Ela permanecia intacta com o passar do tempo, muito ocupada com a vida profissional para pensar em sentimentos. Eram infelizes. Tudo havia mudado. Aquele amor ainda existia, era o que fazia com que eles ainda tivessem vontade de viver.
Moravam na mesma cidade, em bairros vizinhos. Mas nunca se encontravam. Parecia que alguma coisa impedia que eles se vissem novamente. Talvez fosse melhor assim. Eles haviam aprendido a lidar com a dor.
Ainda sonhavam em viver a história interrompida.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Bem que eu gostaria de...

Bem que eu gostaria de esquecer essa madrugada. As lembranças do que havia acontecido permaneciam impregnadas na minha mente. Eram flashes atordoantes. E eu ainda não tinha plena certeza do que acabara de ocorrer. Ou, o que era mais provável, eu não queria acreditar. Pretendia viver a minha vida como se aquilo não tivesse acontecido. Foi um sonho ruim, só isso.
Desde a hora que acordei, sabia que o dia seria ruim. Ele nunca me ligou tão cedo. Disse que esperava poder conversar comigo hoje. Como se eu já não soubesse que ele estava me traindo. Fomos jantar. Fiz questão de escolher o restaurante mais caro. Afinal, era ele quem estava pagando. Depois de algumas taças de vinho tive a “surpreendente” revelação de que nem na traição ele consegue ser original. Tinha que seguir o clichê dos filmes e ser logo com a secretária?
Eu não estava triste. Na verdade, não sentia nada. O silêncio reinava no meu carro. A cidade passava por mim numa velocidade magnífica. As luzes eram hipnotizantemente coloridas. As ruas estavam vazias. Não podia imaginar que alguém estaria ali, naquela hora. A colisão foi intensa e rápida. O homem jazia no asfalto ainda quente. O sangue escorria criando belas formas no chão. A lua estava cheia, iluminando dramaticamente aquela cena.  Ele era jovem, usava uma fina aliança na mão esquerda. O pouco de sentido que havia na minha vida morrera naquele momento.

Três Músicas

Ela não sabia como agir. Nunca havia passado por sua cabeça que um dia ele estaria ali, sentado no chão de sua casa, vasculhando seus vinis empoeirados. Isso depois de um pequeno acidente no trabalho, envolvendo um grampeador e a mão dele, fruto da distração rotineira dela. E ele estava ali, sorrindo.
Os dois conversavam sobre diversos assuntos. Eles se sentiam bem juntos, e nem sabiam. Em algum momento ele achara um vinil, relativamente novo. Ficou olhando para aquela capa simples e, ao mesmo tempo, tão bonita. Ele levantou, foi até a vitrola e botou na faixa oito. Era uma música tranqüila que dava uma certa nostalgia. Em ambos. A voz delicada da cantora ecoava na sala de uma maneira que envolvia aos dois. Eles se olham. Aquela música era sinestésica, tinha cheiro de terra molhada. Os dois concordavam.
Em seguida, as faixas um e doze foram escolhidas por ele. Elas traziam muitas recordações para eles. Talvez por isso ficassem calados, ouvindo. A voz era deliciosa, cheia de uma pureza perfeita para aquele momento. Ele a convidou para dançar. Ela, meio envergonhada, aceitou. Não houve beijo, nem nada desse tipo. Aquele havia sido o primeiro e único encontro dos dois. Ele seria convocado para a guerra no dia seguinte. Mas ela sempre teria aquelas três músicas para lembrar dele e daquele dia.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Não há nada mais normal para mim do que ser confusa. Isso é um fato. E o que eu mais gosto é complicar as coisas. O que poderia ser algo fácil e simples, passa a ser o quebra-cabeça mais adorável do mundo.
Sempre fui muito passional. Tenho a tendência de me apaixonar rapidamente. E esquecer é tão fácil quanto. Não há nada mais interessante do que algo platônico. É divertido sonhar, criar histórias. O problema é quando há a possibilidade de se tornar real. A graça e a magia acabam. A outra pessoa passa a se torna ninguém.
Agora não estou mais assim. Aparentemente amadureci. Não me apaixono mais. Talvez por alguns segundos mas logo em seguida volto para a realidade. Acho que me machuquei muito de uns tempos para cá. Já não ligo mais. Ou ligo demais para conseguir sentir algo de especial.


Resumindo, sei lá.

domingo, 16 de maio de 2010

A pessoa narra o que está acontecendo, detalhadamente. Não deveria ser tão irritante assim. Afinal, cada um fala sobre o que quer, não é mesmo? Existe essa liberdade. Mas porque só o que aquela pessoa específica fala me irrita? Era mais fácil excluir tudo e deixar passar.
Ontem falei falei falei (vírgula é para os fracos) e pronto, acabou. Hoje o meu problema é outro. Por que eu não consigo fazer as coisas no momento certo? Por exemplo, a prova para terça. Eu estou enrolando desde às 11h da manhã! Existe tanta coisa mais interessante para se fazer. Como se eu estivesse fazendo algo super importante. Não estou. Faço nada desde às 11h da manhã.

E a pessoa continua a me irritar falando sobre coisas que não me interessam.
Preciso parar de ser tão aleatória. Falo certas coisas sem pensar, alguns atos são involuntários. Não é minha culpa, sou assim. Às vezes acho que as pessoas tem medo de mim. Não, elas não tem paciência mesmo. Eu acho. Ou, talvez, possam achar graça da loucura. Enfim, não sei. Deixa pra lá.
Eu estou numa fixação muito grande com zumbis. Toda hora são os zumbis. Acho que preciso ver algum filme ou ler algum livro sobre. Está ficando absurdamente bizarro já. Mas sei lá né, vai ser lançado mais um filme sobre eles daqui a pouco. Então não sou só eu que tem essa adoração por eles.
Minha cachorra late. Não é agradável ficar ouvindo isso. Fico imaginando, será que eu sou que nem ela? Tão irritante assim. Devo ser, mas ouve quem quer. Dou toda a liberdade para falaram na minha cara que não querem mais me ouvir/ler. Ou pode simplesmente sumir.
E, como sempre, estou aleatória. Por que eu faço isso? Por que estou escrevendo esse texto, aliás? Eu deveria estar fazendo uma prova. Preciso entregar até terça-feira. Mas e daí? Eu gosto de emoção. Putz, parei.

sábado, 15 de maio de 2010

Ele a olhava. Seria aquilo de verdade ou mais uma peça de sua imaginação fértil? Ela gostou dele desde a primeira vez que o viu, no começo do ano anterior. Mas a situação era complicada. E deixou para trás. Eles se falavam quase sempre. Ela sorriu para ele. Aqueles pensamentos sempre passavam em sua mente quando ele a olhava. E ele sorria de volta. Como era estranho aquilo tudo.
Romantismo não era o seu forte naquele momento. Ela estava desacreditada de tudo. Mas aqueles momentos entre os dois davam uma mínimo de esperança para que no futuro, talvez, ela voltasse a acreditar. Ela corava ao pensar que podia ter o carinho dele. Sentia uma pontada de ridicularidade naquilo tudo. Era? Ela não ligava.
Ele a olhava. Haveria, ali, um desejo também? Não tinha como saber. A vida não era injusta, o problema é que ela não sabia aproveitar os momentos certos. Pequena menina tola. Tantas oportunidades passaram e ela vivia com aquele platonismo. Ela adorava amores platônicos.

Em pensar que isso poderia ser um roteiro de um filme teen americano. Antes fosse. Não era nada agradável aquilo tudo.
Sabe quando você sente uma coisa que não queria sentir e, às vezes, nem sabe se está sentindo certo? Pois é, isso acontece comigo nesse momento. Só estou preenchendo o nada ou realmente gosto? Prefiro achar que é a primeira opção. Menos dolorosa. Principalmente porque eu tenho a plena certeza de que não é recíproco. Afinal, quem gosta de uma pessoa como eu?
Sou lerda, rídicula, cínica, chata, irritante, escrota, louca, mal amada (aham, já me disseram isso), babaca... Tanta coisa. Só ruim. Alguém vê alguma qualidade em mim? Manda por e-mail. Aproveito e boto no meu currículo. Alguém vê que eu posso ser boa? Que eu posso ser amável? Que eu posso ser uma boa companhia, engraçada... Não. Ninguém vê isso. Aliás, pra que, não é?
Ok, tem gente que vê. Minha mãe, minhas avós... Agora eu ri. Esses não contam. São suspeitos demais. Meus amigos vêem. Ou será que eles mentem um pouco? Não sei... Não sei mais nada. Será que algum dia eu soube de alguma coisa? Passei no vestibular, não é? Alguma coisa aprendi. Menos matemática e física. Isso eu realmente não sei.
Eu adoraria chegar e falar tudo o que sinto. Ou que pseudo-sinto. Já não sei mais se sinto. Sinto raiva, isso eu sei. Nesse momento há muita raiva em mim. Vontade de gritar e sumir. De chorar descontroladamente. Sou extrema demais, tenho que parar com isso. É difícil demais ser tranquila. Sou muita coisa ao mesmo tempo. Já falaram que eu era bipolar. Achei graça. Se for assim, todos nós somos. Talvez.
Já escrevi um texto mais ou menos assim há uma semana. Não adiantou muita coisa. Continuo confusa. Meu medo é terminar no mesmo lugar de antes. Não quero. Não posso. Seria derrota demais. O problema é que me sinto tão cansada. Tão nada. Sou um puro nada. Eu sei disso. Pessimismo é o meu nome do meio. Já aprendi a lidar com isso.

No final eu só queria mais que um abraço.
Ela era nova, somente cinco anos. Tudo era bom, não havia problema ou confusão. Seus pais se amavam e isto era o suficiente para ela. Sofia era linda, loira, cabelos cacheados, olhos verdes e, além de tudo, extremamente carismática. Seus pais eram muito orgulhosos de sua única filha.
Porém, contos de fadas só existem no papel, sendo a vida, muitas vezes, extremamente cruel. Sofia só passaria cinco anos com seu muito amado pai. Ela nunca se esqueceria dos banhos de chuva que tomaram juntos ou da sua primeira festa de aniversário, na qual ele encarnou o Elvis.
Tinha consciência de que sua vida não pararia naquele momento. Sofia sempre teria cinco anos em suas lembranças, do jeito que ela sonhava ter durante a vida inteira. Aquele homem, aos seus olhos, lindo, perfeito e com um toque de maluquice saudável, que ela herdou por completo; era o que teria até o fim.
Com o passar dos anos, suas lembranças ficaram turvas. Ela precisava de fotos para lembrar do rosto dele. Mesmo sonhando quase todos os dias com um último momento juntos, ela já não se lembrava mais de sua voz ou de seus trejeitos. A pequena menina sentia sempre sua presença como um anjo da guarda. Mas, seu maior desejo era a volta daqueles míseros cinco anos.
Sofia era feliz, tinha consciência disto: uma mãe que a amava e era tudo em sua vida, uma família gigante e acolhedora, amigos fieis e um padrasto maravilhoso. Porém, sempre faltava algo. Em seus aniversários, natais e réveillons. Ela sempre esperava que ele pudesse estar lá, para um último abraço inexistente.
Cinco anos. Era só isso que ela tinha certeza que levaria para o resto de sua vida. Cinco anos onde tudo era completo e perfeito, onde sua existência fazia completo sentido. Somente cinco anos.
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Encontro Marcado

Não havia mais em Sophia a pureza de antes. O que era uma doce lembrança virou obsessão. Ela não conseguia se livrar do passado, do tempo em que esteve junto ao seu pai. A necessidade de reviver aqueles momentos era uma questão de sobrevivência. Sua vida baseava-se nisto. Nada mais, nada menos.
Sophia perdera os traços de criança. Agora era uma mulher de 21 anos; alta, todos a chamavam de Pin-Up. Seus cabelos eram castanhos claros, ondulados; e seus olhos, de um verde intimidador. Não existia um homem que não fosse encantado por ela. Além disso, transbordava inteligência. Cursava Psicologia na faculdade. Era a melhor da turma e o orgulho de sua mãe já debilitada, que vivia presa a uma cama de hospital.
Aquela doce menina do passado tinha uma vida aparentemente normal, morando na Zona Sul do Rio de Janeiro. Não era rica, mas conseguia sustentar seus luxos. O único problema era sua mania, ou hobby, como ela chamava. Todo dia, de manhã e ou de tarde, frequentava o parquinho perto de onde morava. Sophia dizia para seus amigos que gostava de observar, de maneira antropológica, aquele universo. Porém, não era bem assim.
Sophia gostava de observar especificamente os pais das crianças de cinco anos. Os beijos e carinhos, as brincadeiras que faziam, o empurrar do balanço, a felicidade estampada em cada rosto. Aquela atmosfera, ao mesmo tempo que era inebriante, também a enjoava. Contudo, ela não podia demonstrar. Tudo precisava ser bem feito. Sorria sempre, para todos. Era simpática com babás e mães. Já com os pais, ia além. Ela os seduzia. E, normalmente, bem sucedida.
Toda semana com um novo amante. As amigas a invejavam, os amigos não entendiam porque ela escolhia aqueles homens, geralmente casados. Os colegas brincavam dizendo que isso era seu Complexo de Electra falando mais alto. E não deixava de ser. Tinha plena consciência. Afinal, como estudante da área, entendia sobre o assunto. Mas, para os amigos, ela simplesmente sorria. Os motivos para as suas relações eram mais obscuros do que qualquer um poderia pensar.
O último deles foi o mais interessante. James, um americano de férias no Rio. Ele viva em Manhattan, brincava dizendo que seu prédio era perto de onde morava o Woody Allen. Ela não ligava para isso, só queria que tudo fosse do jeito que planejara. Sua filha, Anne, era adorável. Branca, cabelos negros e olhos azuis como dois topázios. Sua mãe, Samantha, viva para ela. Por isso, foi fácil fisgá-lo. Tudo ocorreu em uma semana, como de costume. Eles se conheceram no parquinho, trocaram telefone e, no dia seguinte, já estavam em um luxuoso motel caro bancado por ele. Parece que James não fazia aquilo há anos.
Para James, Sophia chamava-se Clara, ou Claire, como ele dizia. James a olhava de uma maneira diferente, carinhosa. Parecia que, além de um caso, ele realmente tinha sentimentos por Sophia. Fazia de tudo para agradá-la, para vê-la sorrir. Sentimento novo para ela. Nenhum dos outros casos anteriores foram assim!. Era só prazer. Repulsa era a palavra que melhor descrevia o que ela sentia. Não havia intenção de envolvimento profundo. Sophia não queria se envolver, não queria sentir nada. Absolutamente nada.
No domingo, ao chegarem no motel de costume, James estava apreensivo. Sophia havia dito que haveria uma surpresa naquele dia. Quem não adora surpresas? Ela estava mais linda do que de costume. Realmente parecia uma pin-up. Vestia o sobretudo que ele dera de presente na noite anterior. Lindo, preto com detalhes em vermelho, quatro botões. Ela abriu o mais belo sorriso. Ele estava extasiado. Sophia carregava um pacote qualquer, mas ele não estava preocupado com isso. O mais importante era a lingerie de renda que estava por baixo daquilo tudo. Preta e roxa, combinando com os sapatos. Estendeu o pacote, dizendo ser um presente para ele. Era uma caixa de bombons. Ele comeu. O problema é que alguns homens não aguentam cianeto.
Era assim que terminavam suas relações. Com a morte dos amantes seduzidos. Para Sophia, isso era uma vingança pela morte do pai, assassinado. A visão dela era deturpada, o choque fora muito grande. Mas, sempre pareceu sã desde então. Para sua mãe, era a melhor pessoa do mundo. Para o seu padrasto, um grande orgulho. Mal sabiam que ela não ligava, sua vida girava em torno desse jogo. Observar, seduzir, matar. E ela se divertia, já não cometia erros. Sophia não se preocupava com as filhas daqueles homens. Afinal, nunca se preocuparam com ela!
Na faculdade tudo ia bem, como sempre. A única novidade era sua viagem para a Espanha, onde faria um período na Universidade de Barcelona. Todos estavam muito animados com essa oportunidade. Uma surpresa para própria Sophia. Uma professora a inscrevera, pois sabia que seria bom para o crescimento daquela excepcional pupila. Sophia já estava preparada. Sabia que lá seria difícil continuar com o seu passa tempo favorito, mas ela não se importava. Estava feliz por aquilo tudo.
Por algum tempo, ela não se importou de ficar sem o seu hobby. Ela aproveitou Barcelona muito bem. Fez novos amigos, ficou com alguns homens normais, teve ideias para sua monografia. Foi tudo muito bom. Porém, depois de um mês, ela sentia falta daquele jogo. Aquilo era sua droga, e ela estava em plena crise de abstinência... Todo dia planejava um fim diferente. Chegou até a comprar um caderno para fazer essas anotações. Ria. Achava muito engraçado aquilo tudo. Ela falava para si mesma que era uma forma de trabalhar o raciocínio. Principalmente ali, onde o sistema criminal era superior ao do Brasil. Precisa ter cuidado redobrado com tudo. Qualquer deslize seria o seu fim.
Numa tarde, ela estava num parque. Ali era tão bonito, as cores, os cheiros. Tudo novo, diferente. A atmosfera era agradável, interessante. Ela mantinha um sorriso tímido no canto da boca. Realmente gostava dali, sentia que tudo estava completo. Como isso poderia acontecer? Nada tinha mudado. Seu pai estava morto, sua mãe no Rio. Mas, para ela estava, por alguma razão desconhecida. E Sophia gostava daquela sensação.
Uma menina, beirando os cinco anos, veio em sua direção. Sophia prendeu a respiração, seus olhos ficaram atônitos. Ela não acreditava no que via. Era ela quando pequena! Não era possível, tão parecida! Depois de um tempo, Sophia começou a ver algumas diferenças. Os olhos daquela criança eram de um mel estonteante; sua pele, um pouco mais morena; e os cachos, castanhos. Contudo, os traços eram os mesmos. Tinha certeza de quem puxara aquilo. Seu pai. Ela olhou em volta. O pânico tomou conta de todo seu corpo. Aquele era o encontro que ela sempre desejou. Ela tremia, suas mãos gelaram. Ele não podia estar ali. Ele não podia estar vivo.
Sophia saiu correndo em direção à sua casa. Ao chegar lá, trancou-se no quarto. Chorava compulsivamente sentada de frente para sua escrivaninha. A foto de seu pai estava ali, olhando para ela. Rafael não era bonito. Alto, cabelos castanhos, olhos esverdeados e uma pele pálida. Mas, ele era charmoso, com um olhar penetrante e um sorriso maravilhoso. Ele estaria vivo, em Barcelona, com uma filha de cinco anos? Ela começou a rir como uma louca. Aquilo não poderia ser verdade; seria um sonho ou um pesadelo? Seu pai, o motivo de tantas mortes estava vivo. E agora, o que ela ia fazer?
O parque se tornou o segundo lugar que ela mais frequentava. Todos os dias, no mesmo horário que ocorrera o tal encontro. Ela observava, procurava aquelas duas figuras. Pela primeira vez, ela não sabia o que fazer. Como falar com ele? Seria tudo por instinto. E ela os avistou, felizes, brincando. Sophia não sentia nojo naquele momento, era raiva. O ódio pela dor que Rafael causara havia tomado o seu corpo. Ela precisava respirar fundo. Não poderia cometer nenhuma besteira.
Sophia foi na direção dos dois. Ela estava com o sorriso de lado, um olhar felino. Estava lindamente perigosa. Rafael olhou para aquela figura diferente. Ele sorriu. Era um duelo para ver quem conquistava o outro primeiro. Não tinha um vencedor, o desejo era mútuo. Como normalmente ocorria, a primeira parte daquele jogo não foi difícil de ser concluída. Ela o seduzira. E ele nem sabia de quem se tratava. Para Rafael, Sophia era Elisa.
Aquele romance doentio durou mais de uma semana. Eles se encontravam na casa de Sophia, num motel barato da região ou mesmo na casa de Rafael. A mulher dele, Anita, viajava para promover seu novo livro. Ela ficaria dois meses longe de casa. Eles aproveitaram um mês daquilo. Não havia amor, não havia carinho. Nenhum dos dois almejava aquilo. Eles conversavam muito sobre várias coisas. Na verdade, Rafael falava sobre sua vida e Sophia o escutava. Ela queria saber como tinha sido. Claro que ele não contava detalhes. Ele dizia que a vida dele havia recomeçado ao chegar a Espanha. E era isso que mais importava para ele.
Era uma tarde chuvosa e fria. Os dois estavam na casa dele. Lareira acesa, vinho, um cheiro de alguma comida típica da região. O cenário estava perfeito. A filha dele, Paloma, fora para casa dos avós. Então, ninguém iria atrapalhar nada. E era isso que Sophia desejava. Ela estava no banheiro, retocando o batom. Olhava fixamente para sua imagem refletida no espelho. Respirava fundo. Em seu bolso havia algo que ela não estava acostumada. Ela tremia. Não de medo, mas de excitação. Deu um sorriso feroz para ela mesma e saiu. Na sala, Rafael ouvia música. A última coisa que ele ouviu, antes do golpe na cabeça.
Ao acordar, ele estava amarrado. Sophia o observava. Ele se debatia, esperneava. Ela começou a falar para ficar quieto. Seria melhor que não fizesse escândalo. Ele parou. Sophia disse que tinha algo para contar, mas precisava que ficasse quieto e prestasse atenção. E ela contou tudo. Ela era sua filha, que ele havia abandonado há 15 anos. Ele fizera com que ela se tornasse um ser obsessivo, por aquilo e por ele. Sophia matava homens que tinham filhas de cinco anos. Ele ficou horrorizado. Ela riu com a cara que ele fez e disse que agora precisava acabar com aquilo. Dar um fim ao ciclo. Ele se debatia. Um tiro na perna. Um grito abafado pela fita crepe na boca. Ele a olhava suplicando por sua vida; ela o observava como uma louca.
No dia seguinte, os avós chegaram trazendo a pequena Paloma. Viram aquela cena de terror. Rafael, amarrado e coberto de tiros. Sophia, em um canto, morta com uma bala na cabeça. Os gritos tomaram conta daquela casa. Paloma olhava perplexa para tudo aquilo. Ela sabia que não teria mais seu pai. Mas, também sabia que teria a sua vingança.

domingo, 2 de maio de 2010

Fiquei um bom tempo pensando sobre o que escrever. A música trazendo lembranças de pessoas e situações foi uma ideia, mas era demais para o momento. Ia lembrar de coisas boa e ruins. Logo agora que consigo ouvir tudo o que gosto. Mudei de ideia. Pensei em falar da saudade que tenho sentido de algumas pessoas. Minhas amigas, mais especificamente. Tenho uma forte ligação com elas. Sofro por não tê-las do meu lado sempre. Todas elas, sem exceção. Mas eu ia chorar muito, não quero chorar.
Decidi. Vou escrever sobre nada. Afinal, nada acontece. Quer dizer, coisas acontecem, mas são coisas banais que estão sempre ocorrendo. Nada espetácular acontece. Nada que vá mudar a minha vida. Não nego que em algumas situações a culpa é minha por não agir. Mas só eu tenho que fazer tudo? Acho que não.
Um dia desses falaram que eu deveria ousar mais. Ele dizia sobre a minha escrita. Eu disse que não era ousada até mesmo em minha vida. Timidez, falta de coragem, medo. Tudo junto. Trauma. Ele falou que eu deveria ousar, seria melhor para mim. Abrir uma janela na minha casa de vigas fortes. Minha casa tem vigas fortes, eu gostei de saber disso. Ousei. Ele gostou. Foi na escrita, mas foi um começo. Será que conseguiria fazer o mesmo em minha vida? Só depois de muita terapia.
Queria falar tudo o que me perturba. Mas, afinal, o que me perturba? Não tem nada. São pensamentos que construo para ter sobre o que pensar, sofrer, rir, sonhar. Ou não. Existe algo que me tira o sono. Alguém, na verdade. Uma situação. Não sofro, só imagino. Gostaria de saber como seria. Mas aí, teria de ser ousada. Falam que vai acontecer quando tiver que acontecer, mas não é a gente que constrói nossas vidas, nossos destinos? Quem sabe amanhã eu não chego e falo tudo. Não tenho medo da resposta, só tenho medo do que vão pensar.

É um desabafo, nada importante. Ninguém vai ler ou se preocupar. Mas precisava. Acho que a minha terapia é aqui.

domingo, 21 de março de 2010

Ela era invisível. Em qualquer lugar que ia, ninguém a olhava. Isso somado a outros traumas, fazia com que sua auto estima fosse baixa. Bem baixa. Havia momentos que ela era invisível até para seus próprios amigos. Clarisse não entendia muito bem porque isso acontecia com ela. Ninguém entendia quando ela falava que era invisível. "Ah Clarisse, é só uma fase... E é você que chama isso para você mesma!" ou "Clarisse! Você tem que parar de achar isso... Aí sim as pessoas vão te notar..." ou ainda "Quem disse que você é invisível?". Ninguém compreendia, mas sempre fora assim.

Desde sempre, ela nunca foi de chamar atenção. Nenhum homem nunca havia se apaixonado por ela, olhado para ela com desejo... Como acontecia com suas amigas. Todas as suas investidas foram mal sucedidas. A única vez que deu certo, foi com seu namorado. Mas no final não deu muito certo. E voltava a ser como antes, sem nenhum olhar para ela. Mas parecia que ela já estava acostumada. Talvez ela fosse normal demais. O que não era bom. Pelo menos para ela, não era bom.

Suas amigas perdiam a paciência quando ela falava sobre isso. Era algo que a incomodava, mas ninguém levava muito a sério. E mesmo quando ela ia falar sobre algum outro assunto, era cortada para as outras amigas comentarem alguma outra coisa. Ela sabia que as suas amigas se preocupavam, pelo menos ela achava isso. Mas naquele momento, não era o que parecia. Clarisse já não se abria muito, pois sempre que fazia isso levava algum fora. Mas quando era ao contrário, ela ouvia, com toda a paciência que podia juntar. Mesmo que os assuntos fossem sempre repetidos.

Ela era invisível. E só ela compreendia isso. Ninguém a olhava, ninguém a queria. Ela era de ninguém. E achava que seria assim para sempre. Não havia muita perspectiva para ela nesse quesito. Ela era ninguém.
Adoro me sentir inspirada. É bom, os pensamentos fluem naturalmente. Tudo parece absurdamente mais fácil. E hoje estou assim, particularmente para escrever. Estou boa, centrada, natural. Bem, pelo menos eu me entendo.
Essa semana foi diferente. Recomeço das aulas, mudanças de vida e de sentimentos. Antes estava iludida numa situação que até cheguei a comentar por aqui. But things change. É difícil ter de lidar com certas coisas, cansei de problemas, cansei de instabilidade. Quero algo mais, algo novo diferente. E eu já sei o que eu quero. Não posso negar que isso está me dando um certo medo, mas é tão bom, confortável e certo.
Durante a semana moro em outro lugar. Estou num período de banzo, sentindo falta de casa. Mas as pessoas ao meu redor me animam. Pessoas que podem achar que não tem importância para mim, me animam mais que o normal. E outras, que acham que me animam, não fazem diferença. É a vida. Consequências dos seus atos.
Eu sei que algo vai acontecer. Algo bom, que eu quero muito que aconteça. Acredito nisso. Espero por isso. Chego até a sentir necessidade. Mas tudo vai acontecer no seu devido tempo. E vai dar tudo certo.

Sinto que fui aleatória. Será?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sabe aqueles dias que você adoraria ficar deitada pra que nada daquilo acontecesse? Ontem foi assim. Dia dolorido. Por diversos motivos. Saudade, mágoa, ódio... Tudo muito junto para uma pessoa só. Não é bom.
O problema é você ser uma pessoa altamente sentimental. Geralmente ninguém entende o motivo do seu choro, da sua dor, da sua raiva. E você é orgulhosa, o que piora tudo. O que você mais queria era falar o porque disso tudo, mesmo achando que não vai ser compreendida. Mas só de pensar em falar, dói ainda mais.

O que mais me abala é a saudade. Das pessoas e dos momentos. Ontem foi o dia ápice disso. Duas amigas, duas situações diferentes, mas o mesmo grau de saudade. Uma está perto, mas uma força maior faz com que a gente não se encontre. A outra está longe, o que me preocupa mais. Está sozinha... E eu só posso ajudar dando a minha palavra, lendo o que ele precisa escrever. Queria estar do lado dela, amparar a sua dor. Ver filmes de terror e comer doces... Como eu queria voltar pra esse tempo.

Eu não sinto mais ódio. Foi algo momentâneo, pelo conjunto da obra. Eu sei perdoar, mesmo não tendo nada para perdoar. Ninguém fez nada de errado. Mas eu não sei esquecer. É complicado pra mim, em qualquer situação. Só queria que entendessem o porque dessa mágoa. Mas acho que é difícil demais para os outros. Talvez pela minha mente confusa... Com certeza é por isso. Só faço sentido para mim mesma. Isso não vai mudar.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Existem momentos na sua vida que você para e pensa em tudo o que você já fez. Tenta ver os acertos, os erros, o que não serviu pra nada... Enfim, tudo.
Nesse momento estou assim. Será que é certo realmente se abrir para as pessoas que você confia? Essa pessoa pode se mostrar um erro. Você conta tudo para ela, absolutamente tudo da sua vida. E ela? Não retribui. Talvez porque isso não serve pra nada a ela. Ou simplesmente você não significa absolutamente nada para ela.
Não é ciúme, não é paixão platônica. É mágoa. Ela não te falou uma pequena coisa que outra pessoa fez questão de falar. Isso machuca. Você que sempre falou tudo pra essa pessoa que você adora, você que confia nela cegamente. Não é recíproco. E isso dói.
É ruim descobrir que você não significa nada para a pessoa. Que essa amizade não é nada. Que, realmente, você foi idiota em falar tudo sobre a sua vida, sobre você.

Mas a vida segue. Sem essa pessoa. E você vai se acostumando aos poucos... Pois existem outras que fazem você se sentir querida, amada e importante. E é com elas que eu vou estar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sem título

O que eu posso te dizer?
Um dia a vida acaba
E o que você fez?
Nada

Aproveite
Me aproveite
Um dia eu não estarei mais aqui
E o que você fez?
Nada

Queria ter te conhecido mais
Mas não pude.
O tempo te levou
E o que eu fiz?
Chorei

Não fiquei triste
Pois vida é curta
O tempo, pouco
E sabe o que eu fiz?
Tudo

(by me)

Ele gostava dela. Era visível. Todos os seus amigos falavam que ele tinha que deixar isso de lado e começar algo novo com outro alguém. Mas ele não ligava, só pensava que ela era a mulher da sua vida e que faria de tudo para que os dois ficassem juntos. Não importava o que deveria ser feito. Ele sabia que havia errado. O que ele fez era imperdoável e, por isso, não acreditava que ela tinha sido capaz de fazê-lo.
A vida era injusta. Ambos sabiam disso. Mas não ligavam, pois sabiam que poderiam ser mais fortes do que tudo. O problema é que agora perguntas passavam pela mente dela, dúvidas, medos. E se ele fizesse de novo? E se aquilo não fosse certo? Seria ele capaz de mentir novamente? Ela não sabia. Não havia como saber. Somente se ela tentasse de novo. Desse mais uma chance para aquilo que eles tinham.
Ela não tinha medo do que iam pensar, só tinha receio pelo o que poderia acontecer. Para ela, aquilo era o certo. Era aquilo, exatamente aquilo o que ela queria. O que ela não gostava era o fato de certas pessoas se meterem nesse assunto. Principalmente quando não eram requisitadas. Mas isso iria mudar, ela ia fazer mudar.